sábado, 15 de novembro de 2008

Pontal

Ainda bem que temos esse blog pra desabafar.
O que foi aquilo na câmara de vereadores esta semana que passou??!!!
Parecia um gre-nal fechado numa casa de cinema, muito longe de um exemplo de democracia. Ainda mais porque os únicos que tinham direito a voto são eleitos de 4 em 4 anos a partir de uma eleição que não passa de um bombardeio de propaganda com o objetivo de tornar esses ilustres desconhecido pessoas com muito menos defeitos do que realmente possuem (isso para ser bastante brando)
Vamos ser claros, por favor. Mesmo que os vereadores que propõe e defendem o projeto proposto do Pontal do Estaleiro se revoltem com a suspeita de favorecimento dos mesmos para a aprovação do projeto, eles deveriam no mínimo considerar a estranheza da maioria da população com relação ao episódio.
Simplesmente este projeto surge com urgência maior do que a votação na Câmara de Vereadores da revisão do próprio plano diretor de Porto Alegre.
Por que esta urgência toda?
Este tipo de projeto, por lei, deveria ser encaminhado pelo executivo com parecer das secretarias envolvidas. Mais uma vez a prefeitura se cala.
Outra pergunta:
Continuaremos construindo nossa cidade como uma colcha de retalhos sem um planejamento amplo de desenvolvimento?
A orla do Guaíba já deveria ter um planejamento de uso e ocupação há muito tempo, porém, nosso plano diretor deixa uma enorme lacuna com relação a este espaço importante de nossa cidade.
Deveríamos reunir planejadores, a população e os órgãos competentes para discutir um plano de desenvolvimento para essa área que aproveitasse o potencial do local sem prejuízo aos aspectos ambientais.
O estudo apresentado para aprovação na câmara me parece impalpável para uma avaliação mais aprofundada. Além de não termos uma direção, ou intenções de desenvolvimento para avaliar a proposta. Podemos identificar alguns aspectos que, na minha opinião não cabem naquele espaço. Por exemplo, a escala e hierarquia que tomaria o conjunto representando uma atividade nada excepcional de habitação coletiva. Talvez o local demandasse algo de maior importância para a cidade considerando os aspectos geográficos e o potencial do local.
A preservação ou criação de visuais adequadas para a participação mais efetiva da orla no espaço da cidade. Neste caso, não se tem consenso, talvez nem se tenha pensado em quais são as visuais a serem valorizadas, por isso a altura das edificações denotam esta falta de preocupação configurando um equivoco em princípio.
Em termos de qualidade de arquitetura nem vou entrar em detalhes, apenas saliento minha estranheza com a gratuidade da implantação e das formas utilizadas que, por sua plasticidade seriam melhor visualizadas e compreendidas de maneira isolada, e não agrupadas como na proposta.
Na questão ambiental confesso que não me sinto preparado para tecer comentário, mas acho que é imprescindível um estudo de impacto ambiental antes da aprovação de projeto de tal monta. O tratamento dos resíduos me parece um problema diferente do projeto arquitetônico, sempre considerando a premissa de que cocô e lixo concentrados em grandes quantidades não são um bom ponto de partida.
Tem se falado muito na questão desta proposta privatizar a orla. Acho que a maioria da população, assim como eu considera que esta interface com o Guaíba deva ser pública. A adoção de atividade mista, com a inserção de uso residencial, a principio, me parece interessante, possibilitando uma maior dinâmica populacional na região e aumentando a segurança a partir do auto-controle social (lembremos Jane Jacobs). Assim, não me parece que a inserção de moradias em locais apropriados da orla seja uma privatização da mesma. Acho que a polêmica passa muito mais por uma elitização da região, onde apartamentos de alto valor seriam apenas acessíveis a uma população mais abastada.
Bom, este problema me parece ser maior do que o próprio projeto. Façamos uma revolução socialista então. Eu apóio. De outra forma não vejo solução para o problema. Parece inevitável que as populações mais ricas migrem sempre para as áreas mais valorizadas. E ainda me permito uma pergunta surreal: Seriam os que são contra, a favor deste mesmo projeto se os prédios fossem ocupados por populações residentes na periferia de nossa cidade?
Insanidades a parte o saldo é idiota. Temos aprovado pelo legislativo municipal um projeto que serve apenas aos interesses especulativos, concebido sem atentar para uma intenção da população em um modo de ocupar e usufruir da orla de nosso lago, abrindo precedente jurídico para a proliferação indiscriminada de empreendimentos deste tipo. Isso tudo depois de uma baixaria generalizada dentro da casa do legislativo proporcionada pela ingerência do poder da especulação imobiliária passando por cima dos interesses ainda não claros da população de Porto Alegre. E assim vamos minguando.

7 comentários:

  1. belo texto.

    só tenho minhas dúvidas quanto ao procedimento utilizado para a seleção dos moradores da orla no caso de uma revolução socialista.

    acho que teriamos que executar um edificio viaduto a la le corbusier ao longo de toda orla para absorver toda população. mesmo assim, quem ficaria nas zonas mais centrais? os comandantes da revolução? ou quem ficaria com os apartamentos mais altos, com as melhores vistas?

    no caso da impossibilidade de uma solução que abrigue toda a população, sugiro que façamos sorteios dos apartamentos, com utilização temporária por 10 anos. creio que dessa forma cada um de nós, porto-alegrenses, poderiamos usufruir pelo menos parte de nossas vidas com a companhia do por-do-sol mais lindo do planeta. Faço apenas uma exigência, preferencia para os mais velhos.

    fica uma dúvida, no caso de despoluição do guaíba, e eventual possibilidade de banho num futuro ainda longínquo, aqueles que tiveram sua estada em épocas de podridão pura, poderão entrar de novo na lista de espera?

    afinal, melhor que o por-do-sol mais lindo do planeta, só mesmo o por-do-sol mais lindo do planeta refletindo em águas límpidas..


    abraço a todos.

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  2. No caso de uma revolução socialista tu já estaria na solitária!!!!
    AHAHAHA

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Dá para resumir em poucas palavras: falta de planejamento.

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  5. O que os caras discutiram lá foi o projeto? Ou se dá pra colocar residencias?! Se foi o projeto do Debiagi, aí sim dá pra ficar brabinho, mas se foi só a questão residencial, acho muito válido. Até porque eles não teriam como avaliar a qualidade de um prjeto arquitetônico. E esse negócio de colocar população de baixa renda ali... por favor né meu. Quanto à Revolução Socialista, nem vou comentar. Abraço

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