sexta-feira, 3 de outubro de 2008

depois daquele tatu

Desculpem-me postar esse texto que nada tem a ver com arquitetura. Mas é que é um dos textos mais espetaculares que já li na vida e gostaria de compartilhar com todos. Desculpem tb não falar aqui de Borges, Saramago ou Brecht. Pq a vida pra mim não foi a mesma depois daquele tatu.

Depois daquele “tatu”

Por Canfild que é o Vinícius

A semana passada em uma sinaleira, olhei para o lado e avistei uma bela mulher. Com culpa por minha atitude de macho, calhorda, “babaca” e babão disfarcei e fitei o infinito. O semáforo continuava vermelho, espiei novamente. Atônito, vislumbrei uma cena inesquecível. Um lindo rosto, com olhos escuros amendoados emoldurados por cabelos quase dourados, servia de tela para uma cena escatológica: a moça mexia freneticamente seu dedo em direção ao interior de sua narina direita.
O sinal abriu, ela continuou na busca desenfreada de algo dentro de si. Eu, também, não arranquei. As buzinas recriminavam nossa imobilidade. De repente ela conseguiu, retirou algo que grudou em seu dedo indicador e com o polegar amassou-o e como uma criminosa virou a cabeça para os lados para certificar-se da impunidade. Ao cruzarmos nossos olhares, sorriu com um ar de gozo e cumplicidade e jogou pela janela do carro aquela pequena bolinha. Imediatamente acelerou e sumiu.
Refletindo sobre o ocorrido, imaginei-a fazendo “cocô”. Senti o cheiro de seus refugos fisiológicos. Saboreei seu beijo matinal ao acordar com gosto de saliva putrefada. Sonhei com seu corpo e com orgasmo mútuo que nos proporcionamos. Pensei sobre as conversas “cabeça” e sobre a possível inseparabilidade de nossas almas e a ideal felicidade que viveríamos. Nosso mundo poderia ser compreendido, aqueles momentos haviam mudado nossas existências. Agora tudo seria possível.
Hás vezes enxergo assim a Psicologia, com suas qualidades e pecados, com suas múltiplas facetas e, também, com uma indivisibilidade, com características ilimitadas e infinitas. Talvez, as contradições e as não verdades sejam os motores de uma não ciência, que tenta ajudar-nos a sermos “cientes”.
A propósito, nunca mais a vi depois daquele “tatu”!

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