sábado, 13 de setembro de 2008

Arquitetura ou Capital.

Texto que seria publicado no jornal Partido Geral editado por alunos da FAU-PUCRS em 2003. A edição acabou não saindo.


Arquitetura ou Capital.


Muito tem se reclamado dentro das escolas de arquitetura, dos prejuízos causados à sociedade pela arquitetura gerada pelo dito mercado imobiliário. Mas, na verdade, não se tem chegado ao cerne da questão. Comentam-se os equívocos como se fossem, somente, decorrentes de maus profissionais atuando nas grandes corporações imobiliárias.
O problema é, infelizmente, de fácil constatação, mas de difícil solução. A arquitetura, hoje, não é vista como um fim, e sim como um meio de acúmulo de capital. É vista como mais um tipo de investimento, considerando é claro, suas particularidades. Investe-se em construção civil como se investe em ações de alguma empresa, ou em alguma moeda. Basta observar que os indicadores da construção civil comparecem sempre nos informes econômicos.
A maioria esmagadora da arquitetura produzida hoje é feita por grandes incorporadoras existentes no mercado que buscam a total racionalização e o controle da produção, para que o capital investido não seja desperdiçado, e que este gere o maior retorno financeiro possível.
Os métodos de racionalização da construção não levam a um prejuízo no aspecto do controle do desperdício que, pelo contrário, são considerados, por mim, avanços importantes. Mas até mesmo este aspecto respeita a lógica da reprodução do capital, onde o montante investido tem que ser usado integralmente para gerar a maior produtividade possível. O prejuízo da racionalização acontece devido à extremada padronização de elementos e, o que é mais grave, a padronização de projetos, engessando a criatividade e a exploração de novas possibilidades arquitetônicas.
Atitudes tomadas em relação à segurança dos operários na obra, não são, simplesmente, preocupação com a integridade física dos mesmos, mas sim um método de evitar gastos não previstos devido a pagamento de indenizações, previstos em lei. Sem comentar toda a exploração imposta aos operários decorrida da divisão do trabalho na produção da arquitetura, que também respeita esta lógica, assunto que para ser desenvolvido necessitaria muito mais do que o espaço que me é oferecido.
Hoje em dia o mercado da construção civil exige do arquiteto soluções que nem sempre revelam uma boa arquitetura. Pesquisas de mercado forçam tanto soluções arquitetônicas quanto formais que muitas vezes são extremamente questionáveis, mas que na verdade acabam se tornando regras, causando um enorme prejuízo qualitativo na produção da arquitetura. Por exemplo, não é à toa que os prédios produzidos por incorporadoras são sempre robustos, pois esta tipologia se mostra mais barata em relação a outras que tentem valorizar outros fatores da arquitetura que não o fator econômico, encarado em primeiro plano nestes empreendimentos.
Simbologias baratas e colagens estilísticas são utilizadas desmesuradamente para passar uma falsa impressão de status e qualidade, conformando-se somente como elementos de propaganda.
A disputa entre as incorporadoras e construtoras se tornou tão acirrada que é impossível entrar nesta disputa sem que estas atitudes se incorporem a lógica de produção da empresa. A única saída para os arquitetos, hoje em dia, é obter notoriedade por algumas obras isoladas e então seu trabalho será procurado pelo que ele é e não pelo que deva ser (entenda-se o “deva ser” por todas as regras impostas para a maior reprodução do capital).
Em parte os arquitetos, como classe, são culpados também por esta situação, se fazendo necessária uma discussão aprofundada do tema e manifestações públicas de repúdio a este estado de coisas. Mas o certo é que nada será alterado enquanto a produção da arquitetura não estiver voltada para a própria arquitetura e não para a mera reprodução do capital.

4 comentários:

  1. Ok.

    e o que tu me diz disso?

    http://www.flickr.com/photos/batrace/358446273/sizes/l/

    sem fazer juízo de valor quanto a arquitetura..

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  2. Meul deuls, como diria nosso amigo.
    Este projeto com certeza é em algum país do primeiro mundo ou em algum super emergente. Um empreendimento voltado com certeza para alguma classe altíssima. Os devaneios não são só permitidos como incentivados num troço desses. Mas tu tem que admitir que a maioria esmagadora dos empreendimentos residenciais não são como este, mas respeitam o que está colocado no texto.
    Ou não?

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  3. Também com esse elenco nos projetos...

    Il Dritto - Arata Isozaki
    Lo Storto - Zaha Hadid.
    Il Curvo - Daniel Libeskind.

    http://en.wikipedia.org/wiki/CityLife_(Milan

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  4. http://en.wikipedia.org/wiki/CityLife_(Milan)

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